AUSÊNCIA DE LIMITES

Freqüentemente vemos na mídia impressa e televisiva, atos de abuso cometidos por adolescentes a colegas de classe e professores, dentro das instituições escolares. E nas discussões surgidas desses acontecimentos, fala-se repetidamente em falta de limites. Mas, quem ensinou as crianças e adolescentes a compreenderem o que são regras, limites, e ainda, para que servem? Verifica-se que os educadores defendem-se com o conhecido discurso sobre a falta empenho familiar, e por outro lado, a família, coloca a falta de tempo e horários prolongados de trabalho como escudo para justificar a sua omissão.
 
Assim como relata PEREIRA (2007):

A crise econômica obrigou famílias a repensarem e reformularem suas estratégias de vida, sobretudo no que concerne à obtenção dos rendimentos, tendo em vista fugir o máximo possível do impacto da recessão, do desemprego e da perda do seu poder aquisitivo.
Contudo, os atos de vandalismo, desrespeito as regras das instituições familiares e escolares são evidentes, e merecem atenção e estudo por parte dos educadores. Vê-se que existe uma constante busca para impor as regras da sociedade a crianças e adolescentes na contemporaneidade. E para tanto, pais e educadores utilizam-se de instrumentos característicos para impor normas e princípios.
 
A criança ou adolescente sem limites, geralmente é fruto de uma vida sem obrigações e responsabilidades. A família, muitas vezes utiliza-se do poder aquisitivo, para presentear os filhos, de forma a convencê-los a colaborar com as tarefas domésticas ou esforçar-se nos estudos. Essas atitudes, muitas vezes, é o modo que os pais encontram para justificar o tempo que permaneceu ausente, como bem retrata SAMPAIO (2010): O que acontece é que muitos pais tentam compensar a ausência enchendo a criança de brinquedos para que ela não cobre sua presença constante. Na verdade são os pais que se sentem bem achando que esta atitude preencherá o vazio. Serve como uma válvula de escape.
 
Medidas como essas, são comuns na sociedade atual, principalmente, nas relações onde ocorrem divórcios, e as mães unem-se com novos cônjuges, para ter outros filhos. A frustração do período de separação, seja ela momentânea ou definitiva, acaba fazendo com que os as famílias adotem medidas paliativas para tratar os traumas vivenciados. Por sua vez, a criança ou adolescente, aceitam as situações que as favorecem momentaneamente, mas como seus desejos internos e profundos não são satisfeitos, acabam apresentando atitudes desafiadoras para com os pais e educadores. ZAGURY (1996, p.31) apud FLORÊNCIO, BARRETO E SABRINA, nos diz que (2009): Sentir limites é para criança uma questão de segurança – uma necessidade básica. Não estabelecer limites é uma opção que um pai pode fazer. Mas é importante que, se o dizer, o faça sabendo que, ao contrário do que possa parecer, é também através dos limites que a criança percebe que alguém se preocupa com ela e a protege. O limite faz com que ela perceba também que esse alguém é um alguém forte, que sabe e tem segurança do que faz. (p.11)
E como a criança e o adolescente passam grande parte de seu tempo dentro das instituições escolares, nada mais natural, que eles manifestem as suas angústias no cotidiano escolar. Porém, nota-se que a comunidade docente, vem agindo como a família que não impõe limite aos seus filhos. Pois hora é complacente com as más atitudes dos alunos e hora é rígida em demasia, utilizando-se do poder da atribuição de nota, para coagir ou beneficiar os que agem conforme o exigido.
 
É preciso entender, que a criança ou o adolescente que infringi regras e não respeita os limites colocados dentro da escola, apresenta sinais de carência, tanto da família quanto da instituição educativa. As mudanças nas relações sociais e nas relações do mercado de trabalho e da família ganharam novos contornos e conseqüentemente, novos desafios educativos surgem para pais, educadores e responsáveis.
 
O educando manifesta na convivência escolar os problemas emocionais não resolvidos, e acabam envolvendo-se em brigas, discussões e desrespeito aos professores e funcionários da escola. Assim, com a falta de acompanhamento dos pais e o não envolvimento dos educadores, o indivíduo adquire a independência de forma prematura, sem orientação, e para serem aceitos em grupos, se submetem aos atos de vandalismo, porque muitas vezes, ele não foi repreendido nos primeiros anos, quando as primeiras arestas manifestaram-se. Nesta perspectiva, PEREIRA (2008) nos diz que: Por isso é fundamental que os pais comecem a impor limites e regras desde os primeiros anos de vida, para que a criança aprenda que tudo tem seu horário, que não se deve realizar as atividades quando tem vontade e sim quando pode. É preciso aprender a respeitar a autoridade dos pais, para que mesmo sozinhas, obedeçam às regras e façam as tarefas que foram solicitadas pelos adultos. É fundamental que uma criança cresça em um ambiente cheio de harmonia, paz e carinho, onde haja cooperação, solidariedade e principalmente diálogo, para que assim cada membro compreenda as opiniões do outro e aprenda a respeitá-las.
 
O comprometimento com educação do indivíduo é uma discussão contínua, onde a eterna dúvida é: até onde deve ir à obrigatoriedade da educação familiar e até onde deve ir à obrigatoriedade da educação escolar. E há uma linha tênue que divide as responsabilidades educativas dessas duas instituições. É preciso lembrar que a escola é o lugar que por excelência deve dedicar-se integralmente ao processo de aprendizagem de seus freqüentadores, e para tanto, deve estar em constante estudo, revendo valores, metodologias, e principalmente, que tipo de ser humano pretende-se formar, e para que tipo de sociedade.
                                                                                          
Deste modo, precisamos compreender que a escola é reflexo da sociedade, e vice-versa, portanto é preciso que haja um acordo entre família e escola, para que a escola não transforme o lar em uma extensão da escola, e a família, transforme a escola em reunião familiar, ou consultórios médicos. É preciso que trabalhemos juntos, sem coagir os pais, mas convencendo-os como colaboradores, co-autores de todo o processo sem comprometer a autoridade educativa dos educadores e banalizar a profissão.
 
E quando conseguirmos formar uma sociedade participativa e crítica, chegará o tempo que não precisaremos mais discutir o que é responsabilidade da escola ou da família, porque todos se sentirão partes integrantes do processo escolar. Para tanto, é preciso que estejamos abertos a assumir a nossa parcela de responsabilidade, já que os compromissos educativos fazem parte destas duas instituições: família e escola.

REFERÊNCIAS
Pereira, Luciana Maria de Souza. Relações Conflituosas no Ambiente Familiar: um desafio para a escola na formação da criança. Trabalhos acadêmicos, Campo Grande, v. 1, n. 7, 2008. Disponível em: [http://www.ufu.br]. Acesso em: 17 Maio. 2010.
FLORÊNCIO, Fabíola Ferreira. BARRETO, Priscila Ane Dantas. Cavicchia. Hiperatividade ou Falta de Limites?, Artigo, Campo Grande, v.1, n.14, 2009. Disponível em: [www.psicopedagogia.com.br]. Acesso em : 17 Maio. 2010.
SAMPAIO, Simaia. Aprendendo a dar Limites. Artigos Simaia Sampaio, Campo Grande, v.1, n.13, 2010. Disponível em: [www.psicopedagogiabrasil.com.br/artigos_simaia]. Acesso em : 17 Maio. 2010.
Publicado em 07/10/2010

Currículo(s) do(s) autor(es)
Carla Elias da Silva Pereira - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Graduada em Pedagogia com habilitação em Supervisão Escolar pelo IESF – FUNLEC, Campo Grande/MS
 
Texto retirado do site:      




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